terça-feira, 8 de novembro de 2011

O Outsider Caipira

Está aí um outro exemplo de Outsider, ou seja, o caipira.
Uma das suas características marcantes é o retorno, ou seja, a busca pelas suas origens, a natureza, a simplicidade, a sinceridade, a saudade, o saudosismo do homem das recordações do campo, a pureza e outros tantos sentimentos!
Essa é para o amigo Robson e seu companheiro Wagner.
"...ainda não dá para viver de música, mas também não dá para viver sem a música".

Eve of Destruction

Lembrei desta canção, que diz muito sobre uma época que se encontrava no limiar da destruição.
Muitos artistas, pensadores e pessoas comuns abandonam sua condição de pacato cidadão e vão às ruas dizer às "autoridades ensandecidas de prepotência" que havia uma parcela da sociedade interessada na questão; e que a massa popular não compactuava com o que seus representantes estavam realizando.
Os meios de comunicação ainda eram primitivos, mas havia naquela geração algo de efervescente, um olhar não conformado com o mundo ao seu redor; mas uma atitude de transformação, buscando razões para uma esperança!

Aqui está a letra:

EVE OF DESTRUCTION (Barry McGuire, 1965)

The eastern world it is explodin',
O mundo oriental está explodindo
Violence flarin', bullets loadin',
Violência eclodindo, balas disparando
You're old enough to kill but not for votin',
Você é velho o suficiente para matar, mas não para votar,
You don't believe in war, what's that gun you're totin',
Você não acredita na guerra, qual é a arma que você está segurando?
And even the Jordan river has bodies floatin',
E até o rio Jordão tem corpos flutuando,
But you tell me over and over and over again my friend,
Mas diga-me mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Ah, you don't believe we're on the eve of destruction.
Ah, você não acredita que estamos às vésperas da destruição.


Don't you understand, what I'm trying to say?
Você não entende, o que estou tentando dizer?
Can't you feel the fears that I'm feeling today?
Você não consegue sentir os medos que eu estou sentindo hoje?
If the button is pushed, there's no running away,
Se o botão é pressionado, não há como fugir,
There'll be no one to save with the world in a grave,
Não haverá ninguém para salvá-lo com o mundo em um túmulo,
Take a look around you, boy, it's bound to scare you, boy,
Dê uma olhada em torno de você, garoto, sou obrigado a te assustar, garoto,
And you tell me over and over and over again my friend,
E você me diz mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Ah, you don't believe we're on the eve of destruction.
Ah, você não acredita que estamos às vésperas da destruição.


Yeah, my blood's so mad, feels like coagulatin',
Sim, meu sangue é tão louco, parece que está coagulando,
I'm sittin' here, just contemplatin',
Eu estou sentado aqui, apenas contemplando ,
I can't twist the truth, it knows no regulation,
Eu não posso torcer a verdade, ele não conhece o regulamento,
Handful of Senators don't pass legislation,
Punhado de senadores não passam de legislação,
And marches alone can't bring integration,
E marchas por si só podem não trazer a integração,
When human respect is disintegratin',
Quando a relação humana é desintegrada,
This whole crazy world is just too frustratin',
Todo mundo é louco, é apenas frustrante demais
And you tell me over and over and over again my friend,
E você me diz mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Ah, you don't believe we're on the eve of destruction.
Ah, você não acredita que estamos às vésperas da destruição.


Think of all the hate there is in Red China!
Pense de todo o ódio que existe na China Vermelha!
Then take a look around to Selma, Alabama!
Então dê uma olhada em volta para Selma, Alabama!
Ah, you may leave here, for four days in space,
Ah, você pode deixar tudo aqui, durante quatro dias no espaço,
But when your return, it's the same old place,
Mas quando do seu retorno, estará o mesmo velho lugar,
The poundin' of the drums, the pride and disgrace,
O runfar dos tambores, o orgulho e vergonha
You can bury your dead, but don't leave a trace,
Você pode enterrar seus mortos, mas não sem deixar um rastro,
Hate your next-door-neighbour, but don't forget to say grace,
Odeie seu vizinho, mas não se esqueça de dizer a graça,
And you tell me over and over and over and over again my friend,
E você me diz mais e mais e mais e mais uma vez meu amigo,
you don't believe we're on the eve of destruction.
você não acredita que estamos às vésperas da destruição.
you don't believe we're on the eve of destruction.
você não acredita que estamos às vésperas da destruição.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cristo de Madeira ou de Concreto



Há muito sou visitante das “sinagogas pós-modernas”; digo isto porque ainda ouço alguém dizer: “bem vindos à casa de Deus!”.

Não consigo concordar com esta frase. Arrisco-me dizer que este vive um cristianismo de madeira ou de concreto; que só encontra a amizade, a paz, a generosidade aos sábados e domingos. Não consegue enxergar que a morada de Deus é no seu dia a dia, na sua alma, habitat perfeito e incorruptível, construído por Jesus Cristo há dois milênios.

Nos templos vivem uma contextualização cronicamente inviável ao cristianismo bíblico. Muito se clama dos púlpitos frases sepulcrais, oriundas da mais obscura e confusa intencionalidade, clamando: “sentados na praça: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não chorastes...” (Evangelho de Lucas, 7:32).

Bons tempos aqueles que ainda se dizia: “Voz do que clama no deserto”, pois hoje, nem mesmo aquele que dizia ter o espírito do profeta Elias seria ouvido por muitos dos que se assentam nesses templos que mais se parecem sarcófagos.

Há uma sociedade cansada de ser dominada por governos corruptos, mal intencionados; desiludida dos sistemas de crenças que só fazem acrescentar dor, pânico, repreensão, humilhação e menosprezo...e, se não bastasse, acrescentados a esses dissabores, uma pitadinha de fábulas que entorpecem a consciência dos que os aplaudem, iludidos em suas vãs esperanças.

Não me refiro somente à corrupção por parte daqueles que roubam o dinheiro para benefício próprio, mas àqueles que, com cinismo disfarçado de “justiça divina” roubam o tempo das pessoas que, com boa intenção nos corações, vão em busca de algo que lhes traga um refrigério na alma; mas são fatalmente enganadas, mentalmente corrompidas.

Se nos intitulamos “espirituais”, porque ficamos a divagar sobre “ninharias”, tentando transformar tudo e todos em mercadoria barata? Se realmente acreditamos que somos cristãos, porque não alimentamos um pouco do corpo, muito da alma e muitíssimo das coisas lá do alto? Porque permanecermos num dilema agostiniano, tentando massacrar a alma, oferecendo sacrifícios tolos, adiando a sublimação da existência, torturando o coração e os sentimentos, e enganando a própria consciência, acreditando que o verdadeiro prazer consiste em torturar a alma? Onde chegaremos com tamanha demagogia?

Nas praças desfilam o infortúnio das almas penadas, dos espíritos impotentes, vivendo a embriaguez da razão, do sentimento; seres que já não mais buscam respostas, mas desperdiçaram o último fôlego da esperança. Apenas vivem as intempéries do dia a dia. Enquanto isso, as instituições ostentam sua “onipotência”, seu discurso de pseudo-justiça, onde a fidelidade a Deus se baseia na construção de mais uma torre de Babel, erguendo estandartes absurdos de uma verticalidade egoísta, sustentada no embrutecimento do sentimento de misericórdia aos fracos, aos menores, aos vagantes solitários... Pergunto: onde se escondeu a justiça dos santos? Onde queremos chegar com tamanha hipocrisia? Será mesmo necessária a força da persuasão para rasgarmos o véu que encobre nossa percepção da obra redentora do Cristo Vivo? Será necessário que se pregue palavras intangíveis aos quatro ventos, numa “sociedade do espetáculo”, como diria Guy Debord? Quem realmente somos, neste espetáculo das vaidades desumanas? Somos mais felizes que aqueles que viveram tempos antigos, sem tecnologia, sem adereços ou requintes perecíveis?

Instituem-se púlpitos numa arquitetônica visibilidade. Adora-se o Grande discurso do demagogo; esforça-se para comprar o bilhete do Grande Espetáculo, o espetáculo do sucesso que apregoa a dominação mútua entre homens, enchafurdados numa viciosa alienação. Lugar onde o “penso logo existo” já não existe mais, transferindo-se para o sinto, logo existo; intoxicando a razão, roubando a essência do senso de solidariedade da raça, transformando-nos em protótipos de “big Brothers” (não o da Rede Globo, mas o de George Orwell).

O espírito do nosso tempo é realmente perspicaz e astuto. Será que venceremos as ilusões de nossa consciência? Até quando nos sentiremos seguros em nosso próprio mundo egocêntrico e mesquinho? Até onde gostaríamos de chegar nas nossas débeis vanglórias?  Até quando ficaremos inventando inimigos imaginários sem saber que o inimigo, muitas vezes, somos nós mesmos? É hora de descermos um pouco, de propagarmos o respeito e não a uniformidade cega e desprovida de realidade; de não mais julgarmos a humanidade, e sim nossas próprias misérias, nosso sacrifício sem lógica, sem consciência. Deus não se deixa enganar, mas conhece todos os nossos sentimentos. Enquanto se propaga um clamor pelo avivamento, clamemos pelo despertamento! A nossa fala que não se traduz em ação, empobrece-nos em todos os sentidos. Acordemos desse transe insano; enxerguemos o próximo, não como um instinto judaizante e exclusivista, mas sentindo as diferenças, amando a essência de cada ser, saindo desse baile à fantasia. Tiremos a máscara do partidarismo astuto, abdiquemos de nossa guerra santa, descendo para ver o que há no subsolo da torre de vigia que construímos para fantasiar a falsa segurança das parcas precauções.

Martin Luther King Jr., pastor batista e ícone de uma geração refletiu: “Em decepção profunda, chorei pela frouxidão da igreja. Houve um tempo em que a igreja era bastante poderosa – no tempo em que os primeiros cristãos regozijavam-se por ser considerados dignos
de ter sofrido por aquilo em que acreditavam. Naqueles dias, a igreja não era apenas um termômetro que registrava as idéias e princípios da opinião pública; era um termostato que transformava os costumes da sociedade. Quando os primeiros cristãos entravam em uma cidade, as pessoas no poder ficavam transtornadas e imediatamente buscavam condenar os cristãos por serem “perturbadores da paz” e “forasteiros agitadores
”. Mas os cristãos prosseguiam, com a convicção de que eram “uma colônia do céu”, que devia obediência a Deus e não ao homem. Pequenos em número, eram grandes em compromisso. Eles eram intoxicados demais por Deus para serem “astronomicamente intimidados”. Com seu esforço e exemplo, puseram um fim em maldades antigas como o infanticídio e duelos de gladiadores. As coisas são diferentes agora. Com tanta frequência a igreja contemporânea é uma voz fraca, ineficaz com um som incerto. Com tanta frequência é uma arquidefensora do status quo. Longe de se sentir transtornada pela presença da igreja, a estrutura do poder da comunidade normal é confortada pela sanção silenciosa – e com frequência sonora – da igreja das coisas tais como são. Mas o julgamento de Deus pesa sobre a igreja como nunca pesou. Se a igreja atual não recuperar o espírito de sacrifício da igreja primitiva, perderá sua autenticidade, será privada da lealdade de milhões e será descartada como um clube social irrelevante com nenhum significado..."

Trechos da *Carta de uma prisão em Birmingham*
No fim das contas, a mesma velha indagação voltará à tona: Será que existe alguma dignidade no pó e nas cinzas?
Precisamos urgentemente tirar esse sorriso amarelo do rosto, acordarmos para a realidade, encurtarmos a distância da consciência de nossas fraquezas e ouvir o que o Espírito diz à igreja, pois "... virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas". (2ª Epístola a Timóteo, 4:4).