quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo

Desejo à vocês, amigos, familiares e leitores queridos o Melhor de Deus nas suas vidas, neste ano que se aproxima.
Que as sementes de amor plantadas sejam colhidas abundantemente neste 2012.
Que a saúde sempre esteja habitando em vocês, e que a Paz Verdadeira vos lembre sempre que tudo está aos olhares Daquele que nos criou para a Sua infinita Glória.
À você, um Feliz Ano Novo.

Em Afegani: Saale Nao Mubbarak
Em Africano: Gelukkige nuwe jaar
Em Albanês: Gezuar Vitin e Ri
Em Alemão: Prosit Neujahr
Em Árabe: Antum salimoun
Em Bretão: Nedeleg laouen na bloav ezh mat
Em Búlgaro: ×åñòèòà Íîâà Ãîäèíà(“Chestita Nova Godina”)
Em Cantonês: Sang Nian Fai Lok
Em Chinês: Chu Shen Tan
Em Croata: Sretna Nova godina!
Em Curdo: sala we ya nû pîroz be
Em Dinamarquês: Godt Nytâr
Em Eskimo: Kiortame pivdluaritlo
Em Eslováquio: A stastlivy Novy Rok
Em Espanhol: Feliz Ano ~Nuevo
Em Francês: Bonne Annee
Em Grego: Kenourios Chronos (Kali Xronia)
Em Guarani: rogüerohory año nuévo-re
Em Havaiano: Hauoli Makahiki Hou
Em Hebraico: L’Shannah Tovah
Em Hindu: Nahi varsh ka shub kamna
Em Holandês: Gelukkig Nieuwjaar
Em Indonésio: Selamat Tahun Baru
Em Iraquiano: Sanah Jadidah
Em Irlandês: Bliain nua fe mhaise dhuit
Em Italiano: Felice anno nuovo
Em Japonês: Kurisumasu Omedeto
Em Kirundi: umwaka mwiza
Em Koreano: Chuk Ha
Em Laonês: sabai di pi mai
Em Latin: Felix Sit Annus Novus!
Em Luxemburguês: e gudd neit Joër
Em Macedôneo: srekna nova godina / Streken Bozhik
Em Malásia: selamat tahun baru
Em Maltês: is-sena t-tajba
Em Mandarim: Kung His Hsin Nien bing Chu Shen Tan
Em Mongolês: shine jiliin bayariin mend hurgeye (Шинэ жилийн баярын мэнд хvргэе)
Em Nepalês: Nawa Barsha ko Shuvakamana
Em Norueguês: Godt Nyttår
Em Papua Nova Guiné: Nupela yia i go long yu
Em Persa: sâle no mobârak
Em Filipinês: Manigong Bagong Taon
Em Polonês: Szczesliwego Nowego Roku
Em Português: Feliz Ano Novo
Em Rapa-Nui: Te-Pito-O-Te-Henua
Em Romeno: An Nou Fericit
Em Russo: S Novim Godom
Em Somalês: Iyo Sanad Cusub Oo Fiican!
Em Sueco: Gott nytt år!
Em Sudanês: Warsa Enggal
Em Suíço: es guets Nöis
Em Taitiano: ia orana i te matahiti api
Em Tcheco: Scastny Novy Rok
Em Tibetano: tashi délek
Em Tonganês:  Ta’u fo’ou monu ia
Em Turco: Yene Yiliniz Kutlu Olsun
Em Ucraniano: Shchastlyvoho Novoho Roku
Em Urdu: Naya Saal Mubbarak Ho
Em Vietnamês: Chuc Mung Tan Nien
Em Wallon: bone annéye / bone annéye èt bone santéye
Em Xinjiang: Chu Shen TanEm Yorubá: e hu iye’ dun!
Em Yiddish: a gut yohr
Em Zulu: Sinifesela Ukhisimusi Omuhle Nonyaka Omusha Onempumelelo

"E agora, ó Israel, que é que o SENHOR, o seu Deus, lhe pede, senão que tema o SENHOR, o seu Deus, que ande em todos os seus caminhos, que o ame e que sirva ao SENHOR, o seu Deus, de todo o seu coração e de toda a sua alma, e que obedeça aos mandamentos e aos decretos do Senhor, que hoje lhe dou para o seu próprio bem?"
"Seja Ele o motivo do seu louvor, pois ele é o seu Deus, que por vocês fez aquelas grandes e temíveis maravilhas que vocês viram com os próprios olhos"
(Trechos retirados do capítulo 10 do livro de Deuteronômio)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Conversando com Deus



Quando nesta manhã caminhando ao redor do lago, no campus da universidade, como de costume apreciava a beleza da natureza, o canto dos pássaros, o desfile soberano dos cisnes, a marcha extravagante dos patos, as águas que corriam em cadência ao assopro do vento; enfim, ao passo que andava, conversava com Deus...  
Sei que é muita ousadia inferir uma conversa com o Todo Poderoso; todavia, "Eu prefiro um galope soberano à loucura do mundo me entregar". 
Deixando a ousadia de lado, diante de tanta paz, em súbito me veio um pensamento: a lembrança de um querido amigo, o saudoso  amigo Darci Borges. Lembrei-me das muitas caminhadas que fizemos ao redor deste mesmo lago, das "conversas fiadas", das prosas, das piadas, e das palavras sempre pontuais, de incentivo que saíam dessas conversas.
Ele era um "outsider", pois conseguia ver e viver do outro lado da margem do rio da vida. Via tudo com boas perspectivas, num equilíbrio constante e temperança, com uma pausa no falar quando o assunto se tornava mais pesado e complexo. A sabedoria também habita onde há humildade!
Ao bondoso Deus resta-me agradecer o privilégio de ter conhecido este amigo... Enquanto escrevo a visão embaça, lágrimas rolam, numa súbita e inevitável tristeza de se perder um amigo. Doutro modo, é gratificante saber que vamos nos encontrar um dia: firme esperança que retroalimenta a caminhada.
É bom saber que ainda existe pessoas dignas de recordação; e com isso fico a pensar: o que tenho significado na vida das muitas pessoas que estão juntos a mim, nessa breve caminhada? Qual a memória que elas têm ou terão ao lembrarem de meu nome? Será que tenho alguma contribuição? Quiçá eu consiga seguir os passos do saudoso "velhinho amigo". Um forte abraço, Darci. E até breve...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O Outsider Caipira

Está aí um outro exemplo de Outsider, ou seja, o caipira.
Uma das suas características marcantes é o retorno, ou seja, a busca pelas suas origens, a natureza, a simplicidade, a sinceridade, a saudade, o saudosismo do homem das recordações do campo, a pureza e outros tantos sentimentos!
Essa é para o amigo Robson e seu companheiro Wagner.
"...ainda não dá para viver de música, mas também não dá para viver sem a música".

Eve of Destruction

Lembrei desta canção, que diz muito sobre uma época que se encontrava no limiar da destruição.
Muitos artistas, pensadores e pessoas comuns abandonam sua condição de pacato cidadão e vão às ruas dizer às "autoridades ensandecidas de prepotência" que havia uma parcela da sociedade interessada na questão; e que a massa popular não compactuava com o que seus representantes estavam realizando.
Os meios de comunicação ainda eram primitivos, mas havia naquela geração algo de efervescente, um olhar não conformado com o mundo ao seu redor; mas uma atitude de transformação, buscando razões para uma esperança!

Aqui está a letra:

EVE OF DESTRUCTION (Barry McGuire, 1965)

The eastern world it is explodin',
O mundo oriental está explodindo
Violence flarin', bullets loadin',
Violência eclodindo, balas disparando
You're old enough to kill but not for votin',
Você é velho o suficiente para matar, mas não para votar,
You don't believe in war, what's that gun you're totin',
Você não acredita na guerra, qual é a arma que você está segurando?
And even the Jordan river has bodies floatin',
E até o rio Jordão tem corpos flutuando,
But you tell me over and over and over again my friend,
Mas diga-me mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Ah, you don't believe we're on the eve of destruction.
Ah, você não acredita que estamos às vésperas da destruição.


Don't you understand, what I'm trying to say?
Você não entende, o que estou tentando dizer?
Can't you feel the fears that I'm feeling today?
Você não consegue sentir os medos que eu estou sentindo hoje?
If the button is pushed, there's no running away,
Se o botão é pressionado, não há como fugir,
There'll be no one to save with the world in a grave,
Não haverá ninguém para salvá-lo com o mundo em um túmulo,
Take a look around you, boy, it's bound to scare you, boy,
Dê uma olhada em torno de você, garoto, sou obrigado a te assustar, garoto,
And you tell me over and over and over again my friend,
E você me diz mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Ah, you don't believe we're on the eve of destruction.
Ah, você não acredita que estamos às vésperas da destruição.


Yeah, my blood's so mad, feels like coagulatin',
Sim, meu sangue é tão louco, parece que está coagulando,
I'm sittin' here, just contemplatin',
Eu estou sentado aqui, apenas contemplando ,
I can't twist the truth, it knows no regulation,
Eu não posso torcer a verdade, ele não conhece o regulamento,
Handful of Senators don't pass legislation,
Punhado de senadores não passam de legislação,
And marches alone can't bring integration,
E marchas por si só podem não trazer a integração,
When human respect is disintegratin',
Quando a relação humana é desintegrada,
This whole crazy world is just too frustratin',
Todo mundo é louco, é apenas frustrante demais
And you tell me over and over and over again my friend,
E você me diz mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Ah, you don't believe we're on the eve of destruction.
Ah, você não acredita que estamos às vésperas da destruição.


Think of all the hate there is in Red China!
Pense de todo o ódio que existe na China Vermelha!
Then take a look around to Selma, Alabama!
Então dê uma olhada em volta para Selma, Alabama!
Ah, you may leave here, for four days in space,
Ah, você pode deixar tudo aqui, durante quatro dias no espaço,
But when your return, it's the same old place,
Mas quando do seu retorno, estará o mesmo velho lugar,
The poundin' of the drums, the pride and disgrace,
O runfar dos tambores, o orgulho e vergonha
You can bury your dead, but don't leave a trace,
Você pode enterrar seus mortos, mas não sem deixar um rastro,
Hate your next-door-neighbour, but don't forget to say grace,
Odeie seu vizinho, mas não se esqueça de dizer a graça,
And you tell me over and over and over and over again my friend,
E você me diz mais e mais e mais e mais uma vez meu amigo,
you don't believe we're on the eve of destruction.
você não acredita que estamos às vésperas da destruição.
you don't believe we're on the eve of destruction.
você não acredita que estamos às vésperas da destruição.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cristo de Madeira ou de Concreto



Há muito sou visitante das “sinagogas pós-modernas”; digo isto porque ainda ouço alguém dizer: “bem vindos à casa de Deus!”.

Não consigo concordar com esta frase. Arrisco-me dizer que este vive um cristianismo de madeira ou de concreto; que só encontra a amizade, a paz, a generosidade aos sábados e domingos. Não consegue enxergar que a morada de Deus é no seu dia a dia, na sua alma, habitat perfeito e incorruptível, construído por Jesus Cristo há dois milênios.

Nos templos vivem uma contextualização cronicamente inviável ao cristianismo bíblico. Muito se clama dos púlpitos frases sepulcrais, oriundas da mais obscura e confusa intencionalidade, clamando: “sentados na praça: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não chorastes...” (Evangelho de Lucas, 7:32).

Bons tempos aqueles que ainda se dizia: “Voz do que clama no deserto”, pois hoje, nem mesmo aquele que dizia ter o espírito do profeta Elias seria ouvido por muitos dos que se assentam nesses templos que mais se parecem sarcófagos.

Há uma sociedade cansada de ser dominada por governos corruptos, mal intencionados; desiludida dos sistemas de crenças que só fazem acrescentar dor, pânico, repreensão, humilhação e menosprezo...e, se não bastasse, acrescentados a esses dissabores, uma pitadinha de fábulas que entorpecem a consciência dos que os aplaudem, iludidos em suas vãs esperanças.

Não me refiro somente à corrupção por parte daqueles que roubam o dinheiro para benefício próprio, mas àqueles que, com cinismo disfarçado de “justiça divina” roubam o tempo das pessoas que, com boa intenção nos corações, vão em busca de algo que lhes traga um refrigério na alma; mas são fatalmente enganadas, mentalmente corrompidas.

Se nos intitulamos “espirituais”, porque ficamos a divagar sobre “ninharias”, tentando transformar tudo e todos em mercadoria barata? Se realmente acreditamos que somos cristãos, porque não alimentamos um pouco do corpo, muito da alma e muitíssimo das coisas lá do alto? Porque permanecermos num dilema agostiniano, tentando massacrar a alma, oferecendo sacrifícios tolos, adiando a sublimação da existência, torturando o coração e os sentimentos, e enganando a própria consciência, acreditando que o verdadeiro prazer consiste em torturar a alma? Onde chegaremos com tamanha demagogia?

Nas praças desfilam o infortúnio das almas penadas, dos espíritos impotentes, vivendo a embriaguez da razão, do sentimento; seres que já não mais buscam respostas, mas desperdiçaram o último fôlego da esperança. Apenas vivem as intempéries do dia a dia. Enquanto isso, as instituições ostentam sua “onipotência”, seu discurso de pseudo-justiça, onde a fidelidade a Deus se baseia na construção de mais uma torre de Babel, erguendo estandartes absurdos de uma verticalidade egoísta, sustentada no embrutecimento do sentimento de misericórdia aos fracos, aos menores, aos vagantes solitários... Pergunto: onde se escondeu a justiça dos santos? Onde queremos chegar com tamanha hipocrisia? Será mesmo necessária a força da persuasão para rasgarmos o véu que encobre nossa percepção da obra redentora do Cristo Vivo? Será necessário que se pregue palavras intangíveis aos quatro ventos, numa “sociedade do espetáculo”, como diria Guy Debord? Quem realmente somos, neste espetáculo das vaidades desumanas? Somos mais felizes que aqueles que viveram tempos antigos, sem tecnologia, sem adereços ou requintes perecíveis?

Instituem-se púlpitos numa arquitetônica visibilidade. Adora-se o Grande discurso do demagogo; esforça-se para comprar o bilhete do Grande Espetáculo, o espetáculo do sucesso que apregoa a dominação mútua entre homens, enchafurdados numa viciosa alienação. Lugar onde o “penso logo existo” já não existe mais, transferindo-se para o sinto, logo existo; intoxicando a razão, roubando a essência do senso de solidariedade da raça, transformando-nos em protótipos de “big Brothers” (não o da Rede Globo, mas o de George Orwell).

O espírito do nosso tempo é realmente perspicaz e astuto. Será que venceremos as ilusões de nossa consciência? Até quando nos sentiremos seguros em nosso próprio mundo egocêntrico e mesquinho? Até onde gostaríamos de chegar nas nossas débeis vanglórias?  Até quando ficaremos inventando inimigos imaginários sem saber que o inimigo, muitas vezes, somos nós mesmos? É hora de descermos um pouco, de propagarmos o respeito e não a uniformidade cega e desprovida de realidade; de não mais julgarmos a humanidade, e sim nossas próprias misérias, nosso sacrifício sem lógica, sem consciência. Deus não se deixa enganar, mas conhece todos os nossos sentimentos. Enquanto se propaga um clamor pelo avivamento, clamemos pelo despertamento! A nossa fala que não se traduz em ação, empobrece-nos em todos os sentidos. Acordemos desse transe insano; enxerguemos o próximo, não como um instinto judaizante e exclusivista, mas sentindo as diferenças, amando a essência de cada ser, saindo desse baile à fantasia. Tiremos a máscara do partidarismo astuto, abdiquemos de nossa guerra santa, descendo para ver o que há no subsolo da torre de vigia que construímos para fantasiar a falsa segurança das parcas precauções.

Martin Luther King Jr., pastor batista e ícone de uma geração refletiu: “Em decepção profunda, chorei pela frouxidão da igreja. Houve um tempo em que a igreja era bastante poderosa – no tempo em que os primeiros cristãos regozijavam-se por ser considerados dignos
de ter sofrido por aquilo em que acreditavam. Naqueles dias, a igreja não era apenas um termômetro que registrava as idéias e princípios da opinião pública; era um termostato que transformava os costumes da sociedade. Quando os primeiros cristãos entravam em uma cidade, as pessoas no poder ficavam transtornadas e imediatamente buscavam condenar os cristãos por serem “perturbadores da paz” e “forasteiros agitadores
”. Mas os cristãos prosseguiam, com a convicção de que eram “uma colônia do céu”, que devia obediência a Deus e não ao homem. Pequenos em número, eram grandes em compromisso. Eles eram intoxicados demais por Deus para serem “astronomicamente intimidados”. Com seu esforço e exemplo, puseram um fim em maldades antigas como o infanticídio e duelos de gladiadores. As coisas são diferentes agora. Com tanta frequência a igreja contemporânea é uma voz fraca, ineficaz com um som incerto. Com tanta frequência é uma arquidefensora do status quo. Longe de se sentir transtornada pela presença da igreja, a estrutura do poder da comunidade normal é confortada pela sanção silenciosa – e com frequência sonora – da igreja das coisas tais como são. Mas o julgamento de Deus pesa sobre a igreja como nunca pesou. Se a igreja atual não recuperar o espírito de sacrifício da igreja primitiva, perderá sua autenticidade, será privada da lealdade de milhões e será descartada como um clube social irrelevante com nenhum significado..."

Trechos da *Carta de uma prisão em Birmingham*
No fim das contas, a mesma velha indagação voltará à tona: Será que existe alguma dignidade no pó e nas cinzas?
Precisamos urgentemente tirar esse sorriso amarelo do rosto, acordarmos para a realidade, encurtarmos a distância da consciência de nossas fraquezas e ouvir o que o Espírito diz à igreja, pois "... virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas". (2ª Epístola a Timóteo, 4:4).

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O drama do outsider

Na sua peregrinação involuntária, na busca da compreensão de seus dilemas interiores e diante da necessidade de se expressar, no seu mais puro estado de nitidez existencial, o "outsider" procura meios para inserir-se no "habitat comum". Torna-se outsider, não por vontade própria, mas por causa de suas convicções não coincidirem com a tradição vigente em sua época.
O que caracteriza o procedimento do outsider é a transitoriedade de suas percepções, sua mobilidade na busca do essencial, ou seja, o esforço de quebrar limitações do imaginado e do metafísico; uma inquietude contrapondo-se a ordem pré-estabelecida e de caráter autoritário. O outsider não consegue se "sujeitar voluntariamente" à uma instituição de poder; há conflitos interiores que teimam desenganar (e também desencantar) sua percepção, eliminando quaisquer possibilidades de fingir submissão a algo que não lhe satisfaz a consciência; a necessidade de "ser", contrariando o esforço do "ter"; contrariando também propostas de predestinação, fogindo para a busca do "imanentismo" repentino e fragmentário, não sugestionável, tapando os ouvidos para vozes que outrora lhe sugeriria a obediência inevitável ao sistema de tradições humanas. Daí sua queda ao "intangível", o "perder-se" no descontrole inevitável, a imaleabilidade da alma (a peregrinação, a fugacidade em busca da fé como uma exigência para profundas necessidades do seu íntimo), e não meramente uma graça provinda do sobrenatural como dádiva de mão única.
Entender o outsider é de uma complexidade sem tamanho, é adentrar em um mar revoltoso cujas ondas nos lançam no paradoxo das questões do "imaterial", da hiper-realidade.
E isto é expressado em todas as direções. Não há uma distinção, mas ocorre nas diversas esferas antropológicas (social, política, religiosa, cultural, etc). Tem  mais correlação com o "Caminho", e não com o ponto de partida, muito menos com a chegada.

Transcrevo aqui a letra de uma canção que bem expressa algumas das características:
(Essa vai para o amigo James Vidal, o "avohai")

Canção Agalopada


Zé Ramalho

Foi um tempo que o tempo não esquece
Que os trovões eram roncos de se ouvir
Todo o céu começou a se abrir
Numa fenda de fogo que aparece
O poeta inicia sua prece
Ponteando em cordas e lamentos
Escrevendo seus novos mandamentos
Na fronteira de um mundo alucinado
Cavalgando em martelo agalopado
E viajando com loucos pensamentos
Sete botas pisaram no telhado
Sete léguas comeram-se assim
Sete quedas de lava e de marfim
Sete copos de sangue derramado
Sete facas de fio amolado
Sete olhos atentos encerrei
Sete vezes eu me ajoelhei
Na presença de um ser iluminado
Como um cego fiquei tão ofuscado
Ante o brilho dos olhos que olhei
Pode ser que ninguém me compreenda
Quando digo que sou visionário

Pode a bíblia ser um dicionário
Pode tudo ser uma refazenda
Mas a mente talvez não me atenda
Se eu quiser novamente retornar
Para o mundo de leis me obrigar
A lutar pelo erro do engano
Eu prefiro um galope soberano
À loucura do mundo me entregar

domingo, 9 de outubro de 2011

KANSAS - Dust in the Wind

Nestes dias cinzas do mês de outubro
ao me deparar com esta canção
notei que, enquanto a chuva cai
nosso tempo, como a poeira, pouco a pouco se esvai.



Dust In The Wind

(Poeira no Vento)

I close my eyes
Eu fecho meus olhos
Only for a moment
Apenas por um momento
And the moment's gone
E o momento se foi
All my dreams
Todos os meus sonhos
Pass before my eyes, a curiosity
Passam diante de meus olhos, uma curiosidade
Dust in the wind
Poeira no vento
All they are is dust in the wind
Tudo o que eles são é poeira no vento
Same old song
A mesma velha canção
Just a drop of water
Apenas uma gota de água
In an endless sea
Em um mar infinito
All we do
Tudo o que fazemos
Crumbles to the ground
Cai em pedaços
Though we refuse to see
Embora nos recusamos enxergar
Dust in the wind
Poeiras no vento
All we are is dust in the wind, ohh
Tudo o que somos é poeira no vento, ohh
Now, don't hang on
Agora, não desperdice o tempo
Nothing lasts forever
Nada dura para sempre
But the earth and sky
Apenas o céu e a terra
It slips away
Tudo vai embora
And all your money
E todo seu dinheiro
Won't another minute buy
Não comprará outro minuto
Dust in the wind
Poeira no vento
All we are is dust in the wind (x2)
Tudo o que somos é poeira no vento
Dust in the wind
Poeira no vento
Everything is dust in the wind (x2)
Tudo o que somos é poeira no vento
The wind
O vento



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Adeus ao gênio Steve Jobs

Lembro de quando eu estava me recuperando de uma "pancreatite" adquirida em minha infância. Quando olhava pela janela do hospital e sentia falta da vitalidade que transbordava para um lugar tão distante de "meu mundo". Recordo às noites que chorava sozinho pensando no incógnito de minha recuperação, na tão insuportada condição que me lançava nas mãos da medicina; um sentimento de impotência em mudar algo para além das possibilidades humanas. E isso ocorrera ainda nos meus dias de criança, onde havia tudo de novo lá fora, do outro lado da janela.
Aquela janela de hospital simbolizava para mim a grande muralha que me impedia de viver, um grande oceano, instransponível e inacessível.
Mas a cura chegou, e pude então sair daquele ambiente depois de uns dez dias de isolamento naquele quarto.
Agora podia tentar esquecer as bolachas maizena com chá, a sopa rala e sem sabor.
A plenitude dos dias já me era acessível. O sabor da vida já aguçava o meu paladar. Meus olhos já não eram limitados às quatro paredes brancas, sem cores, sem vida. Já ouvia o barulho do cotidiano, movimento, novos aromas, novos sons - o aguçamento dos sentidos e a possibilidade de existir e significar.
Hoje partiu um ícone da humanidade que soube fazer a diferença, mesmo em meio a um forte inimigo, o câncer no pâncreas. Steve Jobs lutou durante 7 anos contra este astuto inimigo, sempre com a mais pura esperança, inovando, causando impacto em um sistema vicioso e indiferente...
Provavelmente pelo fato de eu passar alguns momentos à mercê desta doença grave, me sinta mais próximo deste ser humano que partiu hoje. Mas, à despeito de tal, rendo graças à Deus por tê-lo capacitado a mostrar às pessoas que nem tudo está perdido. Há ainda esperança enquanto houver fôlego.
Eis um trecho de uma matéria divulgada pela EFE, agência de notícias:


A chamada ao inconformismo e a importância da morte para dar passagem ao novo, ideias defendidas por Steve Jobs em seu discurso na Universidade de Stanford, se transformam no testamento vital do fundador da Apple e são relembradas nesta quinta-feira nas páginas da internet.
Steve Jobs pronunciou o discurso em 2005, durante cerimônia de graduação da Universidade de Stanford, quando achava que seu câncer no pâncreas estava curado.
Na ocasião, ele relembrou sua origem de 'menino não desejado' que foi entregue à adoção, e que apesar do esforço de seus pais adotivos, não terminou a universidade: 'uma das melhores decisões que tomei', disse Jobs.
De acordo com ele, o melhor que aconteceu em sua vida foi ser demitido da Apple, a empresa que fundou: 'me libertou para entrar em um dos períodos mais criativos da minha vida', e então criou a NeXT e a Pixar, e quando a Apple comprou a NeXT ele retornou à empresa.
No discurso, Jobs disse que a despedida da Apple foi 'um remédio amargo, mas que o paciente precisava... estou convencido de que a única coisa que me permitiu continuar foi que eu amava o que fazia'.
Um terço da sua fala foi sobre o enfrentamento com a morte após ser diagnosticado com um câncer de pâncreas: 'ninguém quer morrer', mas 'é o agente de mudança da vida. Elimina o velho para dar passagem ao novo', disse.
Jobs ressaltou que o tempo tem limite, 'não o percam vivendo a vida de outra pessoa'. E acrescentou: 'não permitam que o barulho das opiniões alheias silencie sua própria voz interior. E mais importante ainda, tenham a coragem de seguir seu coração e intuição... tudo o demais é secundário'.
Seu discurso termina com algumas palavras lembrando a última edição da publicação 'The Whole Earth Catalog': 'permaneçam famintos. Permaneçam descabelados'.
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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Livro "A alegria de ensinar", de Rubem Alves

Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...

(Rubem Alves)
 

O autor, mineiro da cidade de Boa Esperança, formou-se em Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas em 1957, pastoreou a igreja presbiteriana de Lavras de 1958 a 1963; foi para Nova York, onde formou-se mestre em Teologia pela Union Theological Seminary, retornando em 1964.  Em 1968 foi perseguido pelo regime militar , foi também denunciado pelas autoridades da igreja presbiteriana como subversivo. Retornou com a família para os EUA, adquirindo lá seu doutorado (Ph.D.) de Filosofia em Princeton Theological Seminary. Hoje é professor da UNICAMP, psicanalista e “jardineiro”. É também autor de preciosas obras como: “Teologia do Cotidiano”; “O Retorno Eterno”; “O Passarinho Engaiolado”; “Filosofia da Ciência”; “Entre a Ciência e a Sapiência”; etc.
 
Na crônica “A Alegria de Ensinar”, o autor critica a estrutura dos métodos educacionais hodiernos, trazendo soluções baseadas na conexão do saber aplicado á vida prática. Sua narrativa nos leva ao campo primitivo do aprendizado, projetando as consequências de uma sociedade materialista pragmática e dissociada da verdadeira qualidade de vida.
Este livro foi gentilmente emprestado por minha irmã Elizeli. Caso o livro não fosse muito bom, certamente eu lhe teria devolvido rapidamente, pois segundo ela, eu realizaria a leitura em uma tarde, devidos às suas poucas páginas. Mas levei exatos três dias, onde parei diversas vezes para refletir sobre o contexto de um tema tão significante para o progresso sadio da humanidade.
Alguns fragmentos que deixo aqui:
“Basta contemplar os olhos amedrontados das crianças e os seus rostos cheios de ansiedade para compreender que a escola lhes traz sofrimento. O meu palpite é que, se se fizer uma pesquisa entre as crianças e os adolescentes sobre as suas experiências de alegria na escola, eles terão muito o que falar sobre a amizade e o companheirismo entre eles, mas pouquíssimas serão as referências à alegria de estudar, compreender e aprender [...] Não me espanto, portanto, de ter aprendido tão pouco na escola. O que aprendi foi fora dela e contra ela. Jorge Luís Borges passou por experiência semelhante. Declarou que “estudou a vida inteira, menos nos anos em que estava na escola”. Era, de fato, difícil amar as disciplinas representadas por rostos e vozes que não queriam ser amados”.
“Os métodos clássicos de tortura escolar como a palmatória e a vara já foram abolidos. Mas poderá haver sofrimento maior para uma criança ou um adolescente que ser forçado a mover-se numa floresta de informações que ele não consegue compreender, e que nenhuma relação parecem ter com a vida?”
“Os técnicos em educação desenvolveram métodos de avaliar a aprendizagem e, baseados em seus resultados, classificam os alunos. Mas ninguém jamais pensou em avaliar a alegria dos estudantes. [...] Daí o paradoxo com que sempre nos defrontamos; quanto maior o conhecimento, menor a sabedoria. T.S. Eliot fazia esta terrível pergunta: “Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?”
“Hermann Hesse dizia que dentre os problemas da cultura moderna a escola era o único que levava a sério. [...] Nietzsche, que via a sua missão como a de um educador, também se horrorizava diante daquilo que as escolas faziam com a juventude; “O que elas realizam, ele dizia, é um treinamento brutal, como o propósito de preparar vastos números de jovens, no menor espaço e tempo possível, para se tornarem usáveis e abusáveis, a serviço do governo. Em vez de “a serviço do governo”, diria “usáveis e abusáveis a serviço da economia”.
“Meditei sobre o destino das vacas. Fiquei poeta. A gente fica poeta quando olha para uma coisa e vê outra. É isso que tem o nome de metáfora. Olhei para a carne cortada, o moedor, os rolinhos e vi uma outra; escolas! Assim são as escolas...As crianças são seres oníricos, seus pensamentos têm asas. Sonham sonhos de alegria. Querem brincar. Como as vacas de olhos mansos, são belas, mas inúteis. E a sociedade não tolera a inutilidade. Tudo tem de ser transformado em lucro. Como as vacas, elas têm de passar pelo moedor de carne. Pelos discos furados, as redes curriculares, seus corpos e pensamentos vão passando. Todas são transformadas numa pasta homogênea. Estão preparadas para se tornar socialmente úteis. E o ritual dos rolos em plástico? Formatura. Pois formatura é isto: quando todos ficam iguais, moldados pela mesma fôrma. Hoje, quando escrevo, os jovens estão indo para os vestibulares. O moedor foi ligado. Serão transformados em ferramentas. As ferramentas são úteis. Necessárias. Mas – que pena – não sabem sonhar...”
“Palavras, coisas etéreas e fracas, meros sons. No entanto, é delas que o nosso corpo é feito. O corpo é a carne e o sangue metamorfoseados pelas palavras que aí moram. Os poetas sagrados sabiam disso e disseram que o corpo não é feito só de carne e sangue. O corpo é a Palavra que se fez carne: um ser leve que voa por espaços distantes, por vezes mundos que não existem, pelo poder do pensamento. Pensar é voar. Voar com o pensamento é sonhar. [...] O corpo de uma criança é um espaço infinito onde cabem todos os universos. Quanto mais ricos forem esses universos, maiores serão os vôos da borboleta, maior será o fascínio, maior será o número de melodias que saberá tocar, maior será a possibilidade de amar, maior será a felicidade.”
“Amar é brincar. Não leva a nada. Porque não é para levar a nada. Quem brinca já chegou. Coisas que levam a outras, úteis, revelam que ainda estamos a caminho: ainda não abraçamos o objeto amado. Mas no brinquedo temos uma amostra do paraíso. Dizem que o trabalho enobrece. Poucos se dão conta que ele embota, cansa e emburrece.”
“Pois o que é um poema? É claro que não é a coisa. Se o poema fosse a coisa ele seria supérfluo, desnecessário, pura tautologia. O poema é um objeto impossível que construímos pela magia do jogo das palavras. “O silêncio verde dos campos...” Onde já se viu isso? Silêncio verde não existe. Mas o poeta brinca com as palavras e o silêncio verde aparece. [...] O professor é aquele que ensina a criança a fazer flutuar suas bolinhas de vidro dentro das bolhas de sabão. Tudo o que é pesado flutua no ar.”
Dizer que o Brasil é o país do futuro por causa das florestas, ferro, ouro, diamantes, é o equivalente a afirmação de que um homem será um grande pintor por ser dono de uma loja de tintas. Mas o que faz o quadro não é a tinta: são as idéias dançantes na cabeça que fazem as tintas dançarem sobre a tela. Por isso, sendo um país tão rico, somos um povo tão pobre. Somos pobres em idéias. Não sabemos pensar. O bem que não se vende são as idéias. É com as idéias que o mundo é feito. [...] Minha filha me fez uma pergunta: “O que é pensar?” Disse-me que esta era uma pergunta que o professor de filosofia havia proposto á classe. Pelo que lhe dou os parabéns. Primeiro por ter ido diretamente á questão essencial. Segundo, por ter tido a sabedoria de fazer a pergunta, sem dar a resposta. Porque, se tivesse dado a resposta, teria ela cortado as asas do pensamento. [...] Não existe nada mais fata para o pensamento que o ensino das respostas certas. Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.
Nas palavras de Roland Barthes: “Há um momento em que se ensina o que se sabe...” E o curioso é que esse aprendizado é justamente para nos poupar da necessidade de pensar. [...] Há um nível de aprendizado que o pensamento é um estorvo. Só se sabe bem com o corpo aquilo que a cabeça esqueceu. E assim escrevemos, lemos, andamos de bicicleta, nadamos, guiamos carros: sem saber com a cabeça, porque o corpo sabe melhor. É isso me poupa do trabalho de pensar o já sabido. Ensinar, aqui, é inconscientizar. O sabido é o não pensado, que fica guardado no cérebro. Não é coisa que eu tenha inventado, me foi ensinado. Não precisei pensar. Gostei. Foi para a memória. Esta é a regra fundamental. Só vai para a memória aquilo que é objeto do desejo. A tarefa primordial do professor: seduzir o aluno para que ele deseje e, desejando, aprenda. E o saber fica memorizado de cor – etimologicamente, no coração –, à espera de que a tecla do desejo de novo o chame do seu lugar de esquecimento. Fazer esquecer para fazer lembrar. Memória: um saber que o passado sedimentou. Indispensável para se repetir as receitas que os mortos nos legaram. E elas são boas. Tão boas que elas nos fazem esquecer que é preciso voar. Permitem que andemos pelas trilhas batidas. Mas nada têm a dizer sobre mares desconhecidos.
Muitas pessoas, de tanto repetir as receitas, metamorfosearam-se de águas em tartarugas. E não são poucas as tartarugas que possuem diplomas universitários.
Aqui se encontra o perigo das escolas: de tanto ensinar o que o passado legou – e ensinar bem – fazem os alunos se esquecerem de que o seu destino não é o passado cristalizado em saber, mas um futuro que se abre como vazio, um não-saber que somente pode ser explorado com as asas do pensamento. Compreende-se então que Barthes tenha dito que, seguindo-se ao tempo em que se ensina o que se sabe, deve chegar o tempo quando se ensina o que não se sabe.
“O seu saber é um pássaro engaiolado, que pula de poleiro em poleiro, e que você leva para onde quer. Mas dos sonhos saem pássaros selvagens, que nenhuma educação pode domesticar”.
“...Meu saber o ensinou a andar por caminhos sólidos. Indiquei-lhe as pedras firmes, onde você poderá colocar os seus pés, sem medo. Mas o que fazer quando se tem de caminhar por um rio saltando de pedra em pedra, cada pedra uma incógnita? Ah! Como é diferente o corpo movido pelo sonho, do corpo movido pelas certezas”.
“Até agora eu o ensinei a marchar. É isto que se ensina nas escolas. Caminhar com passos firmes. Não saltar nunca sobre o vazio. Nada dizer que não esteja construído sobre sólidos fundamentos. Mas, como o aprendizado do rigor, você desaprendeu o fascínio do ousar. E até desaprendeu mesmo a arte de falar. Na Idade Média os pensadores só se atreviam a falar se solidamente apoiados nas autoridades. Continuamos a fazer o mesmo, embora os textos sagrados sejam outros. Também as escolas e universidades têm os seus papas, seus dogmas, suas ortodoxias. O segredo do sucesso na carreira acadêmica? Aprender a fazer tudo o que o seu mestre mandar...”
“... Agora o que desejo é que você aprenda a dançar. Lição de Zaratustra, que dizia que para se aprender a pensar é preciso primeiro aprender a dançar. Quem dança com as idéias descobre que pensar é alegria. Se pensar lhe dá tristeza é porque você só sabe marchar, como soldados em ordem unida. Saltar sobre o vazio, pular de pico em pico. Não ter medo da queda. Foi assim que se construiu a ciência: não pela prudência dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham. Mas sonhar é uma coisa que não se ensina. Brota das profundezas do corpo, como a água brota das profundezas da terra.”
“Dinheiro é um objeto que só dá pensamentos de comprar. A riqueza, com frequência, não faz bem ao pensamento. Mas a pobreza faz sonhar e inventar. Carrinho de pobre tem de ser parido. A professora deve ter notado que ele estava distraído, ausente, olhando o vazio fora da janela. Falou alto para chamar sua atenção. Inutilmente. Ela não percebeu que distração é atração por um outro mundo. Se os professores entrassem nos mundos que existem na distração de seus alunos eles ensinariam melhor. Tornar-se-íam companheiros de sonho e invenção. O menino virou poeta. Entrou no mundo das metáforas: isto é aquilo. Ele disse: “Esta lata de sardinha é o meu carro...” O menino, sem saber, executou uma transformação mágica. [...] O amor é o pai da inteligência. Sem amor todo o conhecimento permanece adormecido, inerte, impotente. [...] Os profissionais da educação pensam que o problema da educação se resolverá com a melhoria das oficinas: mais verbas, mais artefatos técnicos, mais computadores. Não percebem que não é aí que o pensamento nasce. O nascimento do pensamento é como o nascimento de uma criança. Tudo começa com um ato de amor. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos”.
“O menino sonhava. Como Deus, que do nada criou tudo, ele tomou o nada em suas mãos, e com ele fez o seu carrinho. Imagino que, também como Deus, ele deve ter sorrido de felicidade ao contemplar a obra de suas mãos...”

(In: Alves, Rubem. A Alegria de Ensinar. Papirus Editora, 11ª ed. Campinas. 2007. 93p.)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Tributo a um amigo


Sou daqueles que ainda usa de saudosismo e de algum senso nostálgico para render homenagem a um amigo querido.
Nestas linhas utilizo-me do mais puro e sincero respeito a alguém que, durante aproximadamente 15 anos, compartilhou ricos momentos diante de mim e de meus familiares.
A você, amigo Darci, que há um mês o Senhor te chamou para junto de Si, dedico essas linhas singelas, mas, sobretudo, sinceras.
O que ficou para nós foi tua lembrança, tuas maneiras de nos abençoar nos momentos bons e momentos difíceis, com seus "causos", suas piadas, sua maneira mansa e humilde de se expressar.
À você dedico meu sincero respeito, meu abraço na tua grande alma, que hoje contempla a glória do Bondoso Deus, ao lado de Jesus Cristo, nosso eterno salvador.
Hoje findou meu luto, ou seja, um propósito que fiz de nada publicar durante um mês; uma maneira de materializar minha homenagem à ti, nobre amigo. Neste mesmo horário, há um mês, o Senhor achou por bem te chamar para a eternidade junto à Ele. Portanto, rendo gratidão à Deus por ter concedido o privilégio de te conhecer bem, conhecer teus familiares e travarmos, durante estes 15 anos, uma amizade sincera, longanima e pura.
Que o Senhor o tenha na eternidade, até nosso próximo encontro!
Para a família enlutada e aos amigos próximos, dedico esta bela canção, no intuito de traduzir a minha esperança e meus votos à você, companheiro de estrada.
Sinceramente,
Eder

domingo, 17 de julho de 2011

Um pouco de Contra-cultura (para ler, ouvir e cantar)

Livro: "LEONARD COHEN - O Eterno Regresso", por Marc Hendrickx
Foi lançado em Portugal pela editora Guerra e Paz esta biografia da vida de um dos maiores ícones da música e poesia canadense.
Aqui no Brasil muito pouco se conhece da extensa obra deste grande artista de origem judaico-canadense. Mas em outros horizontes, artistas como R.E.M., BON JOVI, BONO VOX, STING, PIXIES, NICK CAVE, ELTON JOHN, TRISHA YEARWOOD, KATE VOEGELE, TORI AMOS, PETER GABRIEL, SUZANE VEGA, WILLIE NELSON, LLOYD COLE, entre outros, fizeram músicas em seu tributo.
Suas músicas "If it be your will" e "Everybody Knows" tiveram forte influência no filme "Um Som Diferente", estrelado por Christian Slater, na década de 1990. Também algumas de suas músicas fizeram parte da trilha sonora do filme "Assassinos por Natureza", e "Shrek" (Hallelujah).
Como escritor, há uma novela "The favourite Game", escrita em 1963, e que foi transmitida em 2003 em uma emissora Canadense. Também há outros livros, como "Let us compare mitologyes" (não traduzido para o português), e "Beautiful Losers" (Belos Vencidos), trazudido pela editora portuguesa Relógio D'água e o livro de poesias Energy of Slaves, entre outros muitos.
Quanto as suas principais canções, uma delas é "Suzanne", que não se refere à sua companheira Suzanne Elrod, que com ele teve um casal de filhos, Adam (nascido em 1972) e Lorca (1974), mas se refere a Suzanne Verdal, a esposa de seu amigo escultor canadense Armand Vaillancourt. A canção na qual Suzanne Elrod inspirou Cohen a compor foi "My Gipsys Wife", e o poema "The dark Lady".
Na década de 1960/70 teve um romance com a cantora Marianne Faithfull, o qual inspirou a canção "So long, Marianne".
Em meados de 1990 retira-se da vida pública, após seu relacionamento com a atriz Rebeca De Mornay, isolando-se no monastério zen-budista Mount Baldy, na Califórnia.
Nascido em 21/09/1934, Leonard Norman Cohen, com seus 77 anos, é tido pelos críticos literários como um escritor dotado de uma alta capacidade de composição em suas letras, um estílo literário extremamente voltado ao espiritual religioso, isolamento, sexualidade e relações interpessoais nesses 50 anos de carreira.

Transcrevo aqui a nota bibliográfica e fragmentos deste excelente eterno regresso:

Nota:
"Este é um livro muito especial em que Marc Hendrickx confronta o leitor com a obra do incontornável cantor e poeta judaico-canadiano Leonard Cohen. Muito longe de ser uma biografia, aqui o autor procura, através de um registo intimista, as respostas para questões sobre o Homem, a felicidade, a tomada de consciência, a fé, o objectivo de vida, o amor, a velhice e a morte. Esse processo é simultâneo com a abertura de horizontes sobre a vida do artista que homenageia, abarcando fases como a sua passagem pelas ilhas gregas ou pelo mosteiro zen da Califórnia onde Cohen se refugiou por diversas vezes. Sem esquecer a sua fama internacional, este livro devolve–nos a perspectiva de um legado que se corporiza num perpétuo regresso."

Trecho:
"A meio do percurso da minha vida, dei por mim num bosque sombrio.» Poderia ter sido uma citação. Contudo, hoje, mais de setenta anos depois de Leonard Norman Cohen ter soltado o seu primeiro grito neste mundo, o poeta profético que cura olha para trás com brandura. A sua divina comédia está quase terminada. O seu humilde servo, leitor, pelo contrário, ainda só chegou à orla da escura floresta."


Para saber mais sobre o Leonard Cohen, há documentários narrando algumas fases da carreira e vida deste poeta, cantor e escritor:



Ladies and Gentlemen...Mr. Leonard Cohen
(Canada, 1965)





 Portrait, Spring 96
(relato sobre a vida no mosteiro)




I'm Your Man (2007)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Resenha: NA NATUREZA SELVAGEM

Conhecendo a história de Chris McCandless, arrisco-me citar uma frase de Schiller: "Quem não se arrisca para além da realidade jamais conquistará a verdade."

"Eu queria movimento e não um curso calmo de existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor. Sentia em mim uma superabundância de energia que não encontrava escoadouro em nossa vida tranquila." (Leon Tolstoi, em "Felicidade Familiar")

É nesse ritmo que começa a saga de Chris McCandless numa investida às mais íntimas e ousadas tentativas de um homem encontrar-se consigo mesmo, em detrimento a um mundo que beira à esquizofrenia coletiva, e uma nítida falta de sentido para as realizações pessoas. 

A trajetória de Chris McCandless rumo ao Oeste, com destino final Alasca, ou seja, uma odisséia rumo ao desconhecido, trilhando a essência do humano com a natureza selvagem, é apresentada num livro biográfico escrito por Jon Krakauer e depois reproduzido no cinema.

Vejo nas linhas do livro, nas imagens do filme e na beleza intrínseca da trilha sonora composta por Eddie Vedder, a vida que percorrendo a trajetória de cada um de nós. Os anseios, os temores, as grandes lacunas de nossa memória, enfim, palavras e ações que se combinam, arrebatando o espírito cansado da vida falsamente segura, ancorada nos valores impostos por uma sociedade decadente e descontente.

"...o deserto é o ambiente da revelação, estranho genética e fisiologicamente, sensorialmente austero, esteticamente abstrato, historicamente hostil. [...] O céu do deserto é abarcante, majestoso, terrível. [...] Ao deserto vão profetas e eremitas; pelo deserto cruzam peregrinos e exilados. Aqui, os líderes das grandes religiões buscaram os valores terapêuticos e espirituais do retiro, não para fugir da realidade, mas para encontrá-la." (Paul Shepard em "Homem na paisagem: Uma visão histórica da estética da natureza").

Seguimos a aventura de Chris McCandless, ou melhor, Alexander Supertramp (super andarilho), emocionando-nos com a austeridade das paisagens. Observamos um deserto aguçando a doce dor de sua aspiração, amplificando-a, dando forma a ela em uma geologia ressequida e puro raio de luz. 

McCandless estava solitário, vivo na natureza selvagem, procurando se desligar dos emblemas metafísicos, procurando se embrenhar no coração da vida. "Estava sozinho no meio de um ermo de ar bravio, entre águas salobras, entre a colheita marítima de conchas, entre claridades cinzentas embaçadas".

Rumou por lugares como Orick, Pistol River, Coos Bay, Seal Rock, Manzanita, Astoria; Hoquiam, Humptulips, Queets; Forks, Port Angeles, Port Townsend, Seattle, Willow Creek, Topock, México, Los Angeles, Detrital Wash, lugarejos do Colorado, Golfo da California, Las Vegas, Bullhead City, Niland, Anza-Borrego, Cartago (em Dakota do Sul), Fairbanks, Yukon, e por fim, o Alasca e sua neve persuasivamente mortal...

"...Não havia ninguém por perto, nem família nem pessoas cujo julgamento respeitasse. Em tal momento, sentia a necessidade de dedicar-te a algo absoluto - vida, verdade, beleza -, de ser regido por isso, em lugar das regras feitas pelos homens que tinham sido descartadas. Precisavas render-te a um tal objetivo último de modo mais pleno, mais sem reservas do que jamais fizeras nos velhos dias familiares e tranquilos, na velha vida que estava agora abolida e abandonada para sempre."
(BORIS PASTERNACK, em "Doutor Jivago")

Cansado da sociedade que lhe roubava, sorrateiramente, sua juventude, sua pureza intuitiva, sua vivacidade embrenhada nos valores "mais nobres" (grifo nosso), se comparados aos valores fast food que o stablishment nos oferece, o jovem outsider buscava "Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa em que a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas faltavam sinceridade e verdade e fui-me embora do recinto inóspito, sentindo fome. A hospitalidade era fria como os sorvetes." (THOREAU, em "Walden ou A vida nos bosques").
Trechos sublinhados em livros encontrados com os restos de Chris McCandless.


Ao passo que seguia sempre em frente, na sua caminhada pelas sombrias, fantásticas e exóticas paisagens, McCandless também percorria pelas ideologias de pensadores como Tolstoi, Jack London, Boris Pasternack, Henry David Thoreau, Mark Twain, entre outras paradas literárias obrigatórias; aliás, obrigatória é uma palavra que Alex evitava ao máximo. É a palavra que o outsider procura despistar, desprezar, depreciar!

Mas McCandless buscava também a piedade. Acredita-se que ele não estabeleceu nenhum relacionamento sexual com mulher alguma. Um dos livros encontrados no ônibus, a seu lado, era "A sonata de Kreutzer", de TOLSTOI, no qual um nobre que se torna asceta denuncia "as exigências da carne" (grifo nosso). Também circulou várias passagens do capítulo sobre "Leis superiores" do livro Walden, de Thoreau. Uma das frases sublinhadas: "A castidade é o florescer do homem; e o que se chama de gênio, heroísmo, santidade e coisas semelhantes são simplesmente fruto dela".

A despeito deste pensamento, nós somos excitados pelo sexo, obcecados por ele, horrorizados com ele. Quando uma pessoa claramente sadia, em especial um rapaz sadio, escolhe abster-se das tentações do sexo, isso nos choca e nos torna maliciosos. E levantam-se suspeitas. Sua ambivalência em relação ao sexo é semelhante à de gente célebre que abraçou a vida selvagem com paixão sincera - principalmente Thoreau (que foi virgem a vida inteira) e o naturalista John Muir - , para não falar dos incontáveis peregrinos, desajustados e aventureiros menos conhecidos. [...] McCandles parece ter sido impulsionado por um tipo de luxúria que superava o desejo sexual. Ele foi essencialmente atraído para uma comunhão com a natureza, para o Norte ou Oete, para o Alasca. Mas isso não o impedia de ser atencioso e amável para com as pessoas. Se interessava bastante nos sentimentos delas, se envolvia de maneira voluntária e desinteresseira.

Mas foi com um amigo veterano, Ron Franz, que McCandles absorveu o sentido da felicidade, cujo real significado é o "compartilhar". No filme, este capítulo se chama "A Sabedoria".
No seu íntimo, McCandles sabia que a felicidade não era possível de se conseguir na solidão, mas rumou mesmo assim, o caminhante solitário, até o derradeiro refluxo de sua memória familiar, onde, lá no Alasca, perto de sua morte por inanição, nos seus últimos dias, lera e fizera marcações sublinhadas com estrelas e colchetes no livro "O doutor Jivago", de Pasternack: "Oh, como se deseja às vezes escapar da estupidez sem sentido da eloqüência humana, de todas aquelas frases sublimes, para se refugiar na natureza, aparentemente tão inarticulada, ou na ausência de palavras da labuta longa e pesada, do sono saudável, da verdadeira música, ou de uma compreensão humana tornada muda pela emoção!"
McCandless escreveu em negrito acima do texto "NATUREZA/PUREZA", e circulou no texto onde dizia "refugiar na natureza" com tinta preta. Ao lado de "E assim se concluiu que somente uma vida semelhante à vida daqueles ao nosso redor, mesclando-se a ela sem murmúrio, é vida genuína, e que uma felicidade não compartilhada não é felicidade. [...] e isso era o mais perturbador de tudo", ele escreveu: "FELICIDADE SÓ REAL QUANDO COMPARTILHADA".

Podemos assim, indutivamente, pensar que essas últimas palavras sejam sinais de que McCandless estava preparado para retornar à sociedade, com o coração destravado, não mais como solitário andarilho, mas preparado a confrontar e ser confrontado pelos eternos dilemas da raça humana. Mas isso é uma suposição, pois "Doutor Jivago foi o último livro que leu".


"Dormimos ao som do realejo; acordamos, se alguma vez acordamos, ao silêncio de Deus. E então, quando acordamos para as praias profundas do tempo aniquilado, então quando a escuridão deslumbrante rompe por sobre as encostas longínquas do tempo, então é tempo para atirar ao ar coisas, como nossa razão e nossa vontade; então é tempo de quebrar nossos pescoços correndo para casa. Não há acontecimentos, mas pensamentos e o bater inflexível do coração, o aprendizado lento do coração de onde amar e a quem. O resto é pura conversa fiada e histórias da carochinha."
(ANNIE DILLARD, em "Santa Firma")

A beleza da história de McCandles se reflete na busca sincera pela essência da razão do ser, do sentido das coisas e afetos, dos diversos paradigmas que estão constantemente nos colocando em xeque-mate. É um mergulho no desconhecido da alma, no desconhecido das nossas limitações, o avanço à beleza inacessível, irrespondível, e instransponível àqueles que desejam apenas mornidão.

Quanto ao livro, as palavras de Jon Krakauer (autor do livro), fazem jus à maravilhosa história do garoto caminhante. Quanto ao filme, a beleza das paisagens nos leva a vislumbrar a pureza da natureza, a beleza multiforme da criação divina. Por fim, quanto às canções, refletem em nossa alma o impulso do outsider em sua busca para novos horizontes; a desintoxicação de uma sociedade fria e egolátrica.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Resenha - Gênesis, genealogias, gêneros e o gênio

Pensar é, antes de tudo, saber perguntar. Quem sabe o que pergunta? Quem pergunta o que sabe? O que significa perguntar pelo que se sabe? Que significa saber perguntar o que ainda não se sabe? Por que perguntar quando, talvez, a resposta seja impossível ou sempre imprecisa? Perguntar, eis a questão! O filósofo Jacques Derrida foi um mestre nisso. Em “Gêneses, genealogias, gêneros e o gênio”, este pequeno livro de grandes questões, ele parte de uma pergunta absolutamente simples e desconcertante: “Um gênio, o que é?”, “o que dizer do gênio?”. Fácil, não? A resposta pode ser inacreditavelmente complexa e deliciosamente trabalhada como texto que se faz perguntando e avança tentando dar respostas ao que nunca cessa de questionar. 

Derrida foi um dos pensadores mais livres do seu tempo de influência sobre os imaginários filosóficos ocidentais, a segunda metade do século XX, uma época de decadência dos intelectuais, convertidos, na maioria, à docilidade das respostas prontas e das questões essenciais silenciadas. Através da interrogação, “um gênio, o que é?”, na verdade, Derrida interpela o leitor, provoca-o, incita-o, leva-o por caminhos nada lineares a perguntar-se: pensar, o que é? O que dizer do pensamento?; Derrida propõe uma “desconstrução”, esboça uma genealogia de um gênero. Não fala de si. Ao contrário. Fala de outro. Mas não seria absurdo rotular o seu texto de autobiográfico. Afinal, a questão, “um gênio, o que é?”.
(Ed. Sulina, 96p.)

quinta-feira, 16 de junho de 2011

FRUTO SAGRADO - O que na verdade somos

O Que Na Verdade Somos

Não há mais segredos pra esconder
Por que complicar a verdade?
Que adianta apontar o caminho
E seguir outra direção?
Quando mundo tenta nos enxergar,
Será que vê o que realmente somos?

Pra falar do amor
Tenho que aprender a repartir o pão
Chorar com os que choram
Me alegrar com os que cantam
Senão ninguém vai me ouvir...

Se a verdade é tão simples, onde erramos?
Ou o que deixamos de fazer?
Se não há mais segredos,
Por que complicamos?
Poucos entendem a verdade!
Pra fazer diferença não basta ser diferente
De que modo eu mudo a história?
Com discurso ou com ação?

Pra falar do amor,
tenho que aprender a repartir o pão
Chorar com os que choram
Me alegrar com os que cantam
Ninguém vai me ouvir sem amor...

O que na verdade somos?
O que você vê quando me vê?
Se o mundo ainda é mau
O culpado está diante do espelho!

O que na verdade somos?
O que você vê quando me vê?
Pra que serve a luz que não acende?
Não ilumina a escuridão

A COVINHA DA MENTIRA


A COVINHA DA MENTIRA

Andava meio distraído pela cidade, quando me deparei com um slogan de hotel que dizia: “Nessa feijoada o principal ingrediente é você!”. Parei, pensei: Ora, a frase pode resumir muito bem o contexto da nossa política tupiniquim*. Vejam só; podemos extrair daí o seguinte raciocínio: ou eles estão nos chamando de porcos, ou eles estão querendo nos comer!

Contrariando a wikipedia, quanto ao termo "tupiniquin" utilizado aqui (risos à parte), peço  desculpas aos leitores pela ironia, pois é necessária para expressar o que realmente quero dizer.

Outro dia conversava com uma querida professora psicóloga, que tanto admiro por seu trabalho. Ela me falou que é muito fácil discernir as mentiras de seu esposo. Ela presta atenção no rosto dele e, quando aparece uma covinha ao redor dos lábios dele, sabe então que se trata de uma mentirinha.

Isso pode ser também comprovado cientificamente, pois na última segunda feira o programa jornalístico CQC fez uma matéria sobre a psicologia da mentira, onde diversas pessoas eram entrevistadas por um profissional que dizia acertadamente quando elas falavam a verdade ou a mentira, baseando-se na referida "covinha"...

Penso que as mulheres são muito mais “assertivas” que nós homens, pelo menos especificamente neste assunto. Não consigo mentir para minha esposa. Não sei se se trata daquele “sexto sentido” das mulheres, ou que ela consegue ler os meus pensamentos ou, ainda, que ela me observa de tal maneira,  conseguindo discernir a minha expressão facial. Bom, deixa pra lá... O que eu quero mesmo dizer é se todos os  brasileiros tivessem a capacidade de localizar nos políticos a “covinha da mentira” ou terem o “sexto sentido” das mulheres, muitas vezes deixariam de acreditar nesse saco de mentiras que nos são descaradamente apresentados a cada campanha eleitoral.

Tentamos compreender a sociologia política, nos esforçando como cidadãos interessados no desenvolvimento humano da nação, mas o que nos sensibiliza são, entrementes, fatores psico-pragmáticos que teimam colocar em xeque ou até mesmo invalidar as teorias, induzindo nossa atenção para a prática, ou seja, para a psicologia do estudo da política.

Difícil é saber até que ponto a teoria ampara a prática, ou vice-versa; não sabemos até que ponto ignoramos a “covinha da mentira” da política ou se preferimos o comodismo à mudanças. Há uma frase: “...quem não desenrola tem medo da responsabilidade”.  Então vivemos enrolados, envoltos numa democracia enlatada e enlutada, ao estilo do feudalismo, onde o poder se concentra nas mãos de poucos que são admirados pela facilidade em contar mentirinhas para os muitos que lhes dão suporte.

É como diz a canção da Legião Urbana:

Sexo verbal
Não faz meu estilo
Palavras são erros
E os erros são seus...

Não quero lembrar
Que eu erro também
Um dia pretendo
Tentar descobrir
Porque é mais forte
Quem sabe mentir
Não quero lembrar
Que eu minto também...
Eu sei! Eu sei!...


E, “enquanto isso, na Sala de Justiça”, os nossos heróis deitam e rolam e riem, cada vez mais alto, da nossa conivência estúpida e estática. Transformarão tudo numa feijoada enlatada, enquanto nós, aqui, permaneçamos deitados eternamente na "cova da mentira"?

* Tupiniquin: são um grupo indígena brasileiro, pertencentes à nação Tupi e que habitam o território atual do município de Aracruz, no norte do Espírito Santo.No uso comum, "tupiniquim" também tem sido usado (embora erroneamente) como metonímia de Brasil ou brasileiro em geral.
Nesse caso, "tupiniquim" é utilizado pelos brasileiros de forma pejorativa em relação a eles próprios e sua mentalidade, significando "pobre, de araque, de terceira categoria", como já denominou Diogo Mainardi.
(retirado da Wikipedia)

Por Eder Silva, 16 jun 2011